sexta-feira, 2 de maio de 2008

No céu, no mar, na terra! (2 de maio de 2008)

Não é de hoje que muitas mulheres, em torno de seus anos todos (acredito que senhoras ainda hoje), sonham em serem aeromoças. Na verdade, hoje em dia uma profissão como qualquer outra, mas, naqueles tempos idos, o status do uniforme sempre alinhado, a beleza pressuposta, o fato de conhecerem os lugares mais distantes do mundo e mesmo por cruzarem os céus, tudo isso e muito mais atraia os olhares mais sonhadores. E se era sonho das moças, não podemos nos esquecer que também era sonho dos moços. Por tudo dito antes, e uma pitada de incertezas – afinal de contas nunca se sabe pra onde elas estão embarcando no dia seguinte, quando desfilam pelos corredores dos aeroportos -, a profissão tornou-se fetiche, sendo possível contratar strippers com os mais variados uniformes e disposições - assunto este que não bem vem ao caso agora.
“Bom dia, é um prazer recebê-lo em nossa aeronave!”. Poxa, e tem como não se sentir bem desta forma? Você pede uma cerveja, ela traz sorrindo. Serve sua refeição e você nem precisa arredar a bunda do lugar. E melhor: ainda volta pra recolher pratos, talheres, copos etc. O que mais alguém pode querer? E outra: qual homem nunca se apaixonou instantaneamente por uma?
Só me questiono uma coisa: porque hoje é tão raro encontrar empresas dispostas a treinarem seus funcionários para melhor servir? Penso que as aeromoças deveriam substituir secretárias, recepcionistas, comerciantes, operadoras de telemarketing, garçonetes e todas as outras profissões possíveis. O mundo seria muito melhor assim. Seria, literalmente, ser tratado como se o Céu tivesse descido a Terra. Imaginem só a maravilha que seria se ao invés de um motorista de coletivo, fossem aeromoças pilotando os ônibus pelas ruas da cidade? Ecoariam pelas avenidas em voz calma, sensual e precisa: “próximo destino: cascadura”. Ou para a alegria de alguns: “Next stop: cascadura station”, como no metrô do Rio.
Pensando bem, há sim alguém que possa não gostar da existência delas. E mulheres mesmo: esposas acompanhadas de seus ilustres maridos devem, em alguns momentos, sentirem-se ameaçadas por aquela que, por mais horas passe viajando, não fica descabelada nem com cara de quem acabou de acordar. E é neste ponto que surge um fato: a cada dia cresce o número de aeromoços – opa, opa, deve ser por isso que a expressão caiu em desuso sendo empregada uma palavra tão mais sem graça e sem efeito: comissárias(os). Moços que voam definitivamente não são bacana.
E as situações mais curiosas acontecem todo momento pelos céus. “Passageiro Silvio Santos. Passageiro Silvio Santos: favor comparecer à cabine”. Instante de silêncio e todos procurando o locutor e apresentador. Mas quem surge é um adolescente. “O tempo estimado de vôo é de 5 horas, o clima está bom, a temperatura externa à aeronave é de 54ºC negativos”. Ah, sim. É por isso que está cheio de cristais de gelo nas janelas. E esse vento gelado congelando minhas pernas? Será que vem lá de fora? Pra que ar condicionado se lá fora está tão frio? Ainda bem que me avisaram porque caso eu passe mal, não abro a janelinha. Mas e a curiosidade: qual som faz lá fora quando não passa algum avião?
E é nestas horas que uma expressão tão antiga torna-se um alarde terrível: “olha o passarinho”, diz o tio coruja para a sobrinha, e todos espantados olham pela janela. Ou a melhor de todas: a aeromoça retira do bagageiro uma pequena maleta autonomeada “Demo Kit” (só pode ser coisa ruim), e anuncia as medidas de segurança em caso de despressurização da cabine e pousos de emergência (não disse que era ruim). E é neste momento que nunca consigo olhar para a aeromoça “muda” fazendo gestos mecânicos como se robô fosse e matando qualquer um de vontade de rir. Melhor seria se ela dublasse o que a outra diz ao microfone. Nada tira da minha cabeça que há um rodízio entre as que vão ler e as que vão fazer papel de bobo da corte e mais: as que ficam lá atrás ficam sempre rindo umas das outras. Não é possível que existam voluntárias para isso.
Fato é: como anjos, são elas que nos guiam até as nuvens, nos fazem sentir bem mesmo a muitíssimos pés de altitude, nos servem e estão sempre dispostas a resolver qualquer problema que possa surgir. Que Deus, em troca deste trabalho bem realizado, possa assim tê-las sempre pousadas em Suas mãos, cruzando os céus nos mais diferentes destinos.
Mas foi na área de embarque de táxis de um aeroporto que, esperando na fila por um táxi, debaixo de uma chuva terrível, um carro passou jogando água suja da rua em todos que estavam ali. E foi da boca de uma mulher com suas malas em mão que saiu: “oh seu fedaputa!”. Olho para o lado, e vejo a aeromoça do meu vôo. Se a boca dela não tivesse sido tão rápida, teria a minha feito esta gentileza.