terça-feira, 9 de junho de 2009

À espera

Escorrendo felicidade dos olhos, em trilhas pelas bochechas vermelhas de frio, correu ao encontro daqueles braços que o abraçavam por inteiro. A pele quente de saudade aquecia novamente a alma. As mãos ávidas por se afundarem naquele corpo apertavam o outro o mais forte possível contra si, numa tentativa de fundir duas metades inteiras por nascença, mas separadas para um dia se unirem em comunhão de dias com mais horas que as horas para se dar mil voltas ao mundo! Plenitude assim não acontece da noite pro dia. Minto.

Esta era a imagem que estava na cabeça. Sentado a beira da cama, com os pés descalços na cerâmica fria do chão e os olhos fixos naquele retrato papel de parede em que apareciam sorrindo. Sorriso cúmplice de quem guarda pra si uma história de criança, de brincadeiras, roda e pique-pega. Inocente a imagem ali posta, natural. E muitas lembranças de pouco tempo juntos, mas intenso como deve ser o tempo dos amantes que se amam escondidos pelas brechas do dia. Apesar de não serem amantes e sim amados.

Pensava no dia que estava por chegar, mas sobretudo nos dias que ainda restavam aguardar. Longa espera de cinco dias. Como dizem os mais velhos: “o tempo passa, meu filho”. Mas nestas horas – na confusão de dias longe e ansiedades por satisfazer – cada segundo é travado pelo estalo do relógio regulando hora de acordar, hora de trabalhar, hora de comer (...) Só se esquece de anunciar a hora de tirar a cara de bobo do rosto e aquele sorriso ansioso por ser mordido novamente.

Triste é a ansiedade. Pior que a fome que mata. Aquela não deixa nem a possibilidade de remissão pelo apodrecimento do corpo. A ansiedade é como um homem morto de fome, repleto de sementes, terra, sol e água a tentar enfiar goela abaixo do chão crespo os embriões de vida. Regar e deixar a luz do sol fertilizar. Mas nunca ver sequer um ramo verde brotar do abotoado marrom que já inunda o corpo e a alma. Desejoso quase de comer lama e as sementes torradas pelo sol para não passar a fome de esperar.

Dormir também é difícil. Inquieta-se ao deitar pois não sabe se o sonho que se tem é a vida real ou se a vida que levamos acordado é na verdade o sonho que vivemos enquanto nossa alma dorme, inconsciente e letárgica neste corpo – sopro de Deus em direção ao nosso crescimento.

Cinco dias se passaram. E tudo aconteceu tão diferente da imagem que fez. Foi muito melhor.


Márcio Maffili Fernandes (09/06/09)