domingo, 12 de abril de 2015

Pingos nos i’s dos mimimi’s

Nova manifestação nas ruas do país. Inevitável as pessoas me perguntarem se eu comparecerei, num misto de curiosidade se a um servidor público é vetada participação e talvez porque, apesar de ter posição diante da situação, nunca fui a uma destas.
Primeiro penso na motivação. Na verdade, busco encontrar uma causa que me faça sair de casa e ecoar nas ruas e não um grito sozinho. Não vou agredir a presidenta que o povo brasileiro elegeu em um processo democrático. E não, não vou agredir também os parlamentares que estão lá porque também foram eleitos pela população dos seus estados Bem ou mal, os representa.
Depois penso nas propostas. Não quero impeachment sem provas. Não quero um novo Congresso (não da forma que propõem) e muito menos penso ser a ditadura uma saída cogitável.
Vejo que a reforma que precisamos, seja tarifária, política, educacional e porque não econômica, deve ser iniciada por uma reforma de princípios íntimos.
Confesso: às vezes também caio na tentação do “jeitinho brasileiro”, mas busco me policiar. Não intento mesmo ser santo, contudo, via de regra, a minha manifestação eu faço no meu dia a dia. No meu trabalho, quando ando pelas ruas e converso com amigos.
Se nos interessa mesmo o futuro do país, ou um país do futuro, produza para isso. Dediquese ao seu trabalho, cumpra suas metas, seja honesto. Estamos muito longe do nosso rendimento em quase todos os setores, quando comparado à capacidade instalada de produção. Não percam tempo culpando, defendendo, apontando o dedo.
Sabe por que digo isso? Porque o que vejo na rua hoje é a expressão exata do que vi na última eleição. As pessoas votam por interesse e benefício próprios! Enquanto não mudarmos isso, não adiantará bradar por reforma. Como cobrar de um parlamentar que não haja por interesses próprios quando nós mesmos o elegemos para isso?
O Brasil que alardeou vantagem em passar quase ileso da crise de 2008 é o mesmo hoje, talvez esteja inclusive em posição melhor que à época. A diferença básica de lá pra cá é que um projeto político dos principais partidos brasileiros especulou mais que podia, para o bem e para o mal, e o brasileiro comum, no meio da queda de braço é hoje quem sofre os efeitos dos juros e impostos mais altos, inflação e provável recessão técnica em curto prazo que coloca em risco os salários e empregos.
Um pacto nacional pela pátria e não pelos interesses partidários e pessoais é fundamental agora. O cenário é favorável, creiam. É na dificuldade que os objetivos comuns se tornam mais claros, nos distanciamos do próprio umbigo e podemos somar pela recuperação do país. 
Acreditem: a maioria dos brasileiros passa por problemas muito maiores que não poder mais viajar pra fazer compras em Miami. 
Por fim, ser intolerante é feio demais. A intolerância na história da humanidade só levou a caminhos obscuros. Respeite a opinião das pessoas e a posição delas. Talvez, na minha visão, este seja o legado das manifestações: brasileiro redescobriu a rua, redescobriu que pode ter opinião. Ainda falta saber para que. O resto é selfie inundando as redes sociais e falsas intenções da mídia.

Marcio Maffili, 12 de abril de 2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

Dos Atos 

Encostado na porta. Ouvido colado no verniz fino e já ressecado. Via a luz por baixo do vão, entre o chão e o tapete e pensava na tranca. Não tinha chave no bolso. Só a vontade de girar a maçaneta e ela se abrir. Enfiou a mão em todos os bolsos da calça. Em vão. No vão das ideias, o risco maior era não arriscar girar a maçaneta. A frustração menor era tentar abrir. E se por ventura a porta estivesse destrancada, mas emperrada?
Trovoa lá fora. Ou cá dentro? Virou do avesso a roupa, bateu a poeira, estava tudo ao contrário do que queria. Doía na pele o ranço da noite escura. E pela fresta um clarão.
Até que raspou a ideia numa farpa: todas as noites partia. Partia de si. Partia do que acham dele. Quem era, afinal? Partia pra onde? E se partia, partia em que? Quantas partes cabiam naquele viver? E se partia, dividia? O coração de vez, numa partida só...
Coração, aguardo trégua, vá lá... Essa guerra se acotovela no meu peito. Abre caminho meio sem jeito. Aperto duro como beliscão. O que vai sobrar de mim? O que falta de Tu em mim, meu Deus, que me dá esta angústia?
Sem resposta. Vento seco no corredor sem fim.
Acotovela-se no meu peito um ser burro. Desses que empacam diante do invisível, resmungam e não seguem caminho que não seja voltar. Mas no fundo, guarda o sonho de chegar lá pra onde não se vai mais...
Silencio além da porta. HOuve a inspiração profunda de alguém do outro lado, que toma fôlego e diz baixo num único sopro:
Quanto vale um sonho? Quanto custa abandonar um sonho? Quanto vale não ter um sonho? Quanto custa viver um sonho?
Inspirou de novo:
Sempre que alguém sonha algo, nasce uma estrela no céu. Sempre que alguém abandona um sonho, apaga sua luz sobre a Terra.

Girou a maçaneta fria e empurrou firme. A porta estava aberta. Ele entrou!

Marcio Maffili, 07 de abril de 2015