quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Lar, doce lar (num ano qualquer)

Estou da janela desde mais cedo e nada me chama atenção na rua. É tarde, naquele período crítico em que as pessoas saem do trabalho e o movimento é caudaloso. Não tenho nada em especial por fazer:uma pia cheia de pratos, copos e panelas para lavar e uma pilha de roupas sujas empilhadas sobre a máquina de lavar. Realmente nada que pudesse me inquietar. Minha esposa ainda não chegou em casa. É, ela chega quase sempre depois de mim. Na verdade sou eu que quase sempre nunca saio. Dizem as línguas, boas ou más, que ela é quem me sustenta. Acham que escrever é tarefa fácil e que não falta inspiração a um escritor.
Deixei todas as luzes apagadas e os aparelhos desligados. Mentira, o ar condicionado está ligado mesmo tendo a janela aberta a minha frente. Sensação curiosa esta: o ar quente de fora vem em baforadas contra meu rosto enquanto aqui está tão frio.
Não, não esqueci de buscar os filhos na escola. Ainda não tivemos a dádiva de encher a casa, cuidar de pequenos arranhões, ensinar a andar, falar e assim por diante. Não é que não os queira, o momento não parece apropriado. Joana trabalha tanto que muitas vezes a vejo apenas no café da manha. Estranho. Ela disse que chegaria mais cedo hoje e nada da campainha tocar. Ela sempre alertava que estava abrindo a porta e adentrando o lar, como se dissesse "bem, cheguei" e nunca dizia qualquer palavra. Estranho eu disse que arrumaria a cozinha mas ... enfim. Deve ser o trânsito.
Invenção interessante é a buzina, não é mesmo? Olho para baixo e ouço uma sinfonia em som nada harmônica. Ninguém gosta de receber aquela buzinada no ouvido, contudo todos adoram causar um alarde. E quanto barulho hoje. Preste atenção, nem dá para ouvir os motores, somente um monte de buzinistas, músicos sem qualquer dom para a vida social, a entupir os ouvidos de motoristas, transeuntes, moradores e quem mais estiver por perto, ou até por longe. Alguns devem pensar que podem assim abrir o mar de carros, repetindo a cena bíblica. Muita boa vontade é necessária.
Vai escurecendo azul o céu entre os prédios e a fumaça embaça o longe, até onde se possa ver. Não tenho este costume de observar o céu, muito menos de ficar da janela, pendurado além das paredes, hoje enormes. Hoje eu precisaa ver tudo de cima, distante do chão o quanto pudesse. E do alto ver o formigueiro humano - imagem por demais vulgar mas tão precisa. Ah, nem tanto assim: somos formigas às avessas, e como.
E então ouvi um barulho na porta, a maçaneta do quarto gira e nada. Sem perceber havia me trancado. Joana? Desta vez ou ela se esqueceu de me avisar que chegara, ou por curiosidade queria ver o que tanto fazia dentro do apartamento na sua ausência. Ao abrir a porta percebi que, de fora do quarto, a tv dava as notícias da noite para os móveis da sala. É, a tv também estava ligada.
- Olá!
Entre o que disse e sua resposta transcorreu tempo suficiente para me deixar afoito.
- Você nem para arrumar a casa, hein!
- Você nem para chegar mais cedo...
Findo o diálogo: luz acesa, janela fechada. Vou para a cozinha e começo a juntar os restos do nosso café e do meu almoço. Tudo separado, inicio a lavagem pelos copos. Formigas andam entre os azulejos apressadamente. Atravessam o mesmo caminho em dois sentidos e parecem conversar ao se depararem uma com outra. Devem estar dizendo: "vamos, há ainda muita comida por carregar". E me perco naquela confusão de minúsculas vozes. Como falam estas formigas, não me recordo de ver outra espécie tão tagarela. E como vivem felizes!
Terminada a pia, acompanho com os olhos o trajeto delas até a mesa. Atravessa azulejos, desce pro chão, passa sobre o tapete, sobe a parede oposta até chegar à borda da mesa onde um punhado de açúcar do café da manhã repousa branco quase escondido pelas patas, bundas e antenas negras e pequenas. Quem se importa com um pouco de açúcar na mesa.
Vou para sala e no intervalo da novela me pego pensando em virar formiga. Formiga de verdade. E sair em busca do meu torrão de açúcar.
Márcio Maffili Fernandes

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Devaneios d’outros (2006) (a Rubem Alves)

Sabe a vida o que faz de nós, se sabemos o que fazemos dela. Pensava a senhora escolhendo a alface mais verde e folhosa na feira perto de sua casa. Havia acordado ainda a sonhar há menos de uma hora. Fez as preces matinais ao lado de Nossa Senhora da Rosa Mística, que ficava próxima à sua janela, ao lado da cama. Era devota fervorosa da santa, a quem se sentia devedora por uma intercessão milagrosa: aproximava-se da morte após dura cirurgia para retirada do útero infeccionado, quando as irmãs em prece pediram a Ela por sua vida. Muitos anos se seguiram, muitas outras doenças e complicações apareceram, mas até hoje a mesma santa participa suas queixas e agradecimentos aos céus.
Diriam (aqueles que não a conhecem bem) que se recordava sempre do marido logo ao primeiro ar da manhã penetrar-lhe consciente as narinas. Mentira. Em momento algum ela deixara de viver em função dele, mesmo depois de sua morte - o coração um dia parou e nunca mais ela ouviu seu doce "bom dia amor". E os dias deixaram de certa maneira de serem bons dias. E passaram apenas a serem dias, como quaisquer outros, não importando serem terças, sábados ou quintas. Ausência sempre abre uma lacuna nas horas, faz razão obscurecer, mesmo que quase tudo siga como antes.
Escolhido o pé de alface, tomou o caminho de casa. Almoçaria sozinha, era quarta-feira. Viúva por anos, sem filhos e uma única fotografia na sala, exposta para si. Amarela e fosca. A ansiedade das mãos dadas, o sorriso assustado pelo flash, o vestido e grinalda mais que brancos, o arroz chovendo nos cabelos e convidados ao fundo. Este era o quadro de seu casamento.
A cada pedra atirada contra o outro, guardamos em nossos bolsos uma pedra exatamente da mesma cor, tamanho, peso e textura. E então riu saborosamente. Ele não se aguentou ao lembra-se deste ensinamento dado por seu pai. E ainda ao lado do caminhoneiro que acabara de xingá-lo através das mais escabrosas palavras, sorria. O trânsito estava realmente complicado, ele havia fechado o caminhão, mas nada demais. O filho assustado no banco de trás, preso ao cinto, estava de olhos arregalados, vidrados. E o pai sorrindo, imaginando o caminhoneiro a cada injúria arremessada a ele escolhendo uma pedra de uma fonte inesgotável delas, em conformidade com a agressão desferida. E já sem espaço em seus bolsos, acumulando pedras entre os braços e seu corpo, entupindo a cabine já sem poder se mexer lá dentro. comprimido por todos os lados e pesado.
Guiou o carro até mais a frente, enfim haviam chegada à escola do garoto. O pai ainda esboçava largo sorriso e o filho ainda assustado desenganchou o cinto, beijou seu pai e desceu na calçada. Ia andando, dizendo "tchau pai", e este o gritou pelo nome, precisava lhe dizer algo. Em pé na calçada, ainda esboçava um sorriso ao lado do filho. Ensinamento de pai para filho: pai agachado, barulhos, brilho nos olhos, sorrisos e um abraço. Apenas um, bem apertado.
Que Deus duvidasse sim dela. Poderia não duvidar de qualquer um, mas dela não. Queria mais é surpreendê-lo, ir além do que Ele pudesse ter pensado para ela. Não se sentia extraordinariamente mais capaz que ninguém, mas sentia que podia muito. Mas ainda exitava, e levou o questionamento ao marido quando este chegou em casa. É possível a Deus duvidar? Provavelmente sim, indicou o esposo convicto, mesmo em dúvida. Lembrou a ela de que tudo é possível a Ele. Mas duvidar da própria criação? Surpreendeu-se ela própria com a contra-argumentação que lhe surgia e foi preparar o jantar com a ajuda do marido, ambos incógnitos. Ambos amam e isso é suficiente apesar de não saberem.
O suficiente é sempre mais importante do que o desejado. Na verdade o desejado é sempre mais importante, equivocadamente. Acho que as vezes não me basto e crio pessoas que vejo na rua. Dou-lhes história, sentimentos, problemas e até pensamentos. Sou bondoso com elas na maioria das vezes por identificar-me com suas dores e alegrias. Não sei o que ando fazendo da minha vida, se atiro pedras e muito menos se Deus duvida de mim, mas tudo me preocupa e me sinto melhor assim.
É necessário boa-vontade aos homens e isso estes homens que crio têm. Se fosse escrever a um extra-terráqueo relatando a ventura de viver na Terra, diria: pode não parecer, mas boa vontade não falta a estes meus companheiros. Talvez lhes falte um lugar, diferente de todos que conheço onde eles caibam juntos. Olho no mapa e acerto com os olhos: Boa Esperança aos homens de boa vontade. Seria suficiente, não?
Márcio Maffili

domingo, 7 de outubro de 2007

À luz de vela ( 13/10/2005)

Preciso confessar alguma coisa a você; ou várias: não sei até quando você suportará me ver falar. Na verdade quer realmente saber? Todas as pessoas que procurei nestes tempos não me deram muita atenção e me restou apenas você. Não porque tenha pouca consideração por quem representa pra mim, não é isso, me entenda: me é difícil ser franco contigo, apenas isso, o que já se faz muito.
Pensando melhor não perca seu tempo comigo. Antes pararmos por aqui, não ficarei chateado. Sozinho me viro e continuamos companheiros. Digo isso porque talvez lhe doa um pouco também. Tenho a alma dolorida e a comunhão do sofrimento é perigosa demais. ( Pausa para pensar e decidir em seguir ou não.)
Há um tumulto lá fora. Corre-se atrás, de, para - sem nem se saber o passo. Ninguém percebe o próprio passo. O som é quase ensurdecedor. Quão vorazes são os homens, somos nós, eu e você, embora não creia nisso. É isso que me assusta. Mas você não sabe disso, de mim, da pobreza de minha alma. Sou inofensivo, contudo não sou um anjo, não sou verdade. E isso é por demais cruel.
E de frente ao espelho do banheiro é que vacilo em acender a luz. Não enxergo nada há dias. Só o barulho abafado pelas portas e janelas toca meu corpo. Encharcado de banho, respingo no piso e formo poça, como se derretesse ali estático diante da pia. Eu a poça. Penso em me desfazer com ela entre as frestas e rejuntamentos e escorrer pelo ralo. Mas temo tudo; quase tudo: frio, fome, solidão, incapacidade, altura, escuro...medo de ter medo.
Num estalo faço a luz acender com os dedos enrugados d'água. Abra os olhos e me vejo cego diante do espelho. Vejo apenas reflexos em flashes de claridade e escuridão. Estou tonto e reuno forças para me manter de pé. Me apóio na pia sem vê-la. Pela primeira vez enxergo: por isso a cegueira.
Diante dos meus olhos a vida se desembaça no espelho. Pouco a muito, com a ponta dos dedos, desmancho a névoa que escorre em gotas frias. Dói como se parede eu fosse e tivesse a tinta arrancada em cascas com uma espátula de aço. E aos poucos se expõe o reboco, aspero, grosso e feio. E frágil. Me envergonho ao me mostrar assim a você, sem as belas molduras com paisagens de antes.
A água do meu corpo ferve com a febre que me percorre. Penso em apagar a luz, ainda não vejo direito e me surpreendo com o passar da dor. Você a viu vaporizar com a água?
Um clarão muito forte interrompe o banheiro. Um trovão muito claro treme janelas, paredes e a luz se apaga. Só então ouço a chuva que gotejava há tanto tempo no vasculhante. Obrigado a esta nova cegueira de luz, fico ansioso por ver o espelho. Onde está sua imagem? O que se vê em um espelho no escuro? Com a mão ainda a desembaçá-lo, sou tomado por forte ansiedade. Tenho certeza de que agora posso ver, mas sem luz...não posso te tocar.
Corro ainda nu a tatear movéis pelo corredor, sala, cozinha. Encontro vela no armário. Tropeço na mesa, fósforo na mão, fumaça e luz. Baça e insistente chama me ilumina. Volto ao banheiro e com os olhos de ver, lhe vejo. À minha frente, assustado, pupila dilata pelo negrume do ar, rosto respingado, imagem-reflexo. Toco ao avesso sua face angelical. Um mar inteiro se forma em seus olhos densos, penetrados nos meus.
Obrigado por me ouvir e me ajudar à sua forma: era tudo de que precisava agora. Não questione e nem precisa esboçar este sorriso tão lindo, sei que se feriu um pouco. Mas me perdoe. E me perdoe as imperfeições, serei mais forte de hoje em diante, não como tentei antes. Tudo me importa, você me importa.
Agora siga adiante, segue rumo. Estarei sempre com você, sendo você de hoje em diante. Sopro a vela e aguardo em pé a chuva passar.

Márcio Maffili

domingo, 30 de setembro de 2007

Carta de amor (2005)

Calado silencio o som vazio da sala. Desligo a tv, tiro as pilhas do relógio da parede, fecho a janela e a porta para o corredor. A luz faz barulho elétrico sobre minha cabeça até que apago o acendedor. Ou talvez tenha acendido o apagador, não sei ao certo. Como vagalume urbano, o relógio do aparelho de som pisca azul ritmado iluminando a sua volta de forma especial.
Agora sim, só, sinto-me bem. Lembro-me do telefone e de seu fio até a parede ligando-me a qualquer outro do mundo que, como eu, tenha esta caixa plástica e porventura, ou desventura, saiba meu número. Não quero ouvir nem seu toque: abro a gaveta emperrada da estante e vou em busca da tesoura, entre contas e papéis inúteis. Com ela em mãos, faço meu próprio parto: corto o cordão telefônico que me liga ao mundo. Não há choro, apenas um suspiro; nasço para mim, tão somente isso tudo. Tenho frio no estômago como se tivesse engolido uma pedra de gelo, roubando meu calor. É tarde; que eu a espere derreter por inteira. Dói um pouco.
Não me reconheço, por um momento. Ali, sentado na poltrona, sem poder me escapar. Intimidado por mim, num salto, sento no chão e pela primeira vez sinto falta de um tapete no piso.
Há quanto tempo não limpo a casa? É preciso lembrar de ligar para a faxineira e marcar. Não agora: lembraria da poeira outra hora, assim como do celular. Não sei onde está. Este não tocará mesmo tão cedo, tão tarde que é.
A hora pisca: uma e vinte e três da noite. É a insônia que voltou, pensaria noutro dia. Mas não hoje. O sono emprestou seu tempo gentilmente para o pensar e um branco surge na mente. Pensar em quê? Pensar em que pensar e não encontrar seria pensar? Condenado, cumpro em cárcere privado minha pena, sem dores maiores, tristeza, angústia ou crime cometido. Na verdade, uma sensação “nunca dantes navegada”e sem razão me mantém sentado, quieto no chão, no meio da sala, no núcleo de mim. E que o resto gire por conta própria em torno, ao menos neste instante. Não seria assim necessário se este momento não estivesse ocorrendo, mas nele estou e sei o que me aguarda na porta.
Um ritmo surto inunda a sala. E no susto, aumenta continuamente. Procurando origem, levanto e me descubro bumbo: sinto o coração forte e apertado ecoando seu canto pelo ar parado. O bombear quente percorre artérias, extravasa pelos órgãos e me acolhe corpo inteiro. Envolvendo-me até a pele, os poros vão se abrindo e suo em ato solene. Brotam gordas as gotas no meu rosto. Fecho os olhos em busca de algum ar mais frio. Guio os pés pelos tacos e sofá chegando à janela. Abro o quanto posso o vidro e sem ver bate deliciosa brisa em meu corpo, contornando o obstáculo: eu. Arrepio a alma e suspiro aliviado apesar dos barulhos de fora. Então, cego, reinvento,céu, casas, prédios, ruas e pessoas. Tudo parece melhor – sem gritos, lamentos, murmúrios e pessoas.
Passos rompem pelo corretor ruidosa marcha, avisando a chegada de alguém, possivelmente um vizinho que, sem querer, iluminou pela fresta da porta parte do meu chão. Sou obrigado a encarar outra vez a carta de envelope azul no chão, intacta desde que ali se postara, provavelmente à tarde, enquanto estivera lá fora sendo parte do todo e nada me incomodava.
Ouço a aproximação de uma banda festiva e logo vejo um circo erguer lona, ali mesmo na minha sala. Muitas luzes, música! Levanta arquibancada, monta picadeiro e a platéia – pipoca, boca e olhos – lota as cadeiras aguardando o grande momento: a entrada do mágico. Quem? Eu? Tento fugir, mas até a saída há muita serragem a percorrer. Saco cartola e gravata colorida, sabe-se lá de onde, e com o olhar peço a banda o rufar dos tambores. Todas as luzes se voltam para o envelope. Faço pequena travessura com a garotinha de brilhantes olhos negros da primeira fila. Retiro uma rosa branca das mãos dela, sem notar que na verdade estava escondida em minha manga. Um assistente ( de onde ele saiu hein?) me entrega um monociclo. Dou voltas a girar e jogo bolas coloridas para o ar. No entusiasmo tento pegá-las e tombo. Silêncio. Apenas o som das bolas caindo e rolando até pararem.
Alguns se levantam e outros riem. Disfarçando ser a queda algo proposital, me vejo ao lado da carta. Recolho-a e apresentando ao público o último número, agora de pé, confirmo tonto a letra manuscrita com meu nome estampado. Reconheço a letra corrida, impressa para sempre na memória. Recordo de outros tempos, quando não temia o sentimento, agora dolorido, apertado. Por que voltara a escrever, a se aproximar? A distância era acordo: ainda tinha ferido o orgulho e amava. Sim, amo. Esqueci a platéia, quando um garoto gritou:
- Palhaço.
Enxugo a lágrima que desbrava meu rosto branco de pasta d’água, abro sorriso e dou o que me pedem: a mágica.
Lanço para o alto as palavras desconhecidas que tenho nas mãos. O quanto posso, contorço todos os músculos do corpo, entorto braço, giro pé. Subindo, o azul do envelope se confunde com a lona colorida e, suspenso no ar, ganha asas. Uma linda arara sobrevoa as cabeças atônitas e some pela lateral.
Convulsivo aplauso interrompe a ansiedade. Agradeço, ingrato. Fim do espetáculo; o circo segue seu rumo. Restam apenas pequenos sorrisos espalhados pelo chão, logo o vento os carregará para longe. Outros virão?
Exausto, jogo-me no sofá e rio de mim mesmo, gargalhada gostosa de devaneio. Ninguém percebeu o truque. Enquanto me contorcia, após fingir jogar a carta para o alto, guardei-a na gaveta ainda aberta, de onde havia tirado a tesoura. E lá repousa ainda lacrada, ao alcance. Pego a tesoura e a coloco sobre a carta. Com certa dificuldade emperro a gaveta em seu lugar.
Um dia chegará em que me esquecerei de tudo e quem sabe não me lembre de achá-la. Por enquanto, guardara as contas em outra gaveta, não quero encontros casuais. Penduro a cartola no prego da parede. Preciso deitar: uma e vinte e três da manhã pisca.
Márcio Maffili

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

SOMBRAS NO ESPELHO (2005)

Quando garoto, gostava de brincar com a sua sombra. Era como se o futuro deixasse trilhado o caminho a ser desbravado, ou então o passado a mostrar que deveria ser visitado, mas com certo cuidado. Mas isso só veio a perceber depois, bem depois, quando sol e chuva, paixão e ódio, alegria e tristeza começaram a duelar em sua vida. Não como paradoxos errantes e imiscíveis, mas como ramos que se entrelaçam e se perdem um no outro sem mais saber quem é um, quem é outro.
Andava quadras e quadras, voltas e voltas, ruas e ruas, recriando um mundo só seu, envolto pelas sombras ardentes do dia, ou pelo quieto reduto inalcançável pelos postes nas noites em que se desorientava a caminhar pensamentos.
Durante essas andanças, praticava olhar fundo nos olhos desconhecidos de algum passante. Penetrar-lhe calmamente a alma. Mas como de costume também, raramente encontrava alguém aberto a essa desmesurada invasão. Não tinha má intenção nisso. Apenas vislumbrava mergulhar na essência alheia, no que as pessoas chamam de subconsciente, nome que para ele não fazia qualquer importância. Bastava-lhe sentir o majestoso toque do olhar que se cruza e estar no outro nesse vão momento.
Vez ou outra roubava de alguma árvore intocável folha e aspirava a entender como tudo é magistralmente perfeito, até mesmo nos detalhes para ele mínimos, que haveriam de ser razão de existir para outros.
Não era criança de grandes amizades (em números). O motivo não era claro nem para ele. Na verdade, ele se bastava em sua pequenez. Evitava assim angústias desnecessárias e valorizava o que realmente valia: o amor. A quem amava bastava o menor murmurar para que mais que depressa ele viesse cessar frio ou tormenta que incomodasse. Amava com facilidade, não porque subestimasse tal sentimento. Para ele viver sem amar era como manter uma planta à sombra, não permitindo o seu desabrochar em perfume e beleza. E ele nem sabia que poderia esperar por algo em troca: doar-se era do que precisava.
Medos não tinha. Não haveria de existir a que temer. Perdas e desilusões eram apenas notas erradas em sua harmônica existência, a se perderem pelo espaço-tempo sem ferir sequer sua meninice, paciência ou graciosidade.
Esquecia-se do mundo ao procurar pedras, as mais belas, entre a terra úmida do quintal. E as guardava por apenas pouco tempo: queria sempre que alguém pudesse compartilhar de sua alegria ao garimpar essas pequenas preciosidades. Então as enterrava novamente, mas sempre debaixo de um seco limoeiro. Gostava da idéia de um dia alguém cavando as encontrasse sorrateiras a espreitar.
Tinha na face o frescor de quem enxerga todas as cores a pulsar em torno de si: amarelos melões, claras nuvens, celestes horizontes. E nessa convulsão do observar, apaixonava-se a cada instante pelo movimento. Carros e pressa não lhe interessavam: cinza demais. Preferia reparar a areia que, grão a grão, sobrerolando-se, toma forma ao menor toque. Achava também mágico o relógio de pêndulo da sala e suas badaladas, mesmo sabendo que seu marcar de horas poderia um dia fasciná-lo e torná-lo mais um daqueles.
Deitado para dormir, esfregava os pés contra o lençol, sentia cócegas enquanto aguardava o afago de boa noite. Pai e mãe nunca deixavam de embalar-lhe os mais loucos sonhos. Davam-lhe força para sustentar as asas. Podia voar até onde não aguentasse mais, apesar de ainda assim poder continuar até muito longe, sabe-se lá até onde.
E o despertador mais uma vez a lhe acordar rompendo barreiras atmosféricas. Os olhos assustados se abrem para o mundo mais uma vez para lhe mostrar no espelho do banheiro o reflexo da criança de outrora.
Não havia sonhado naquela noite e sentia-se explodindo por dentro. Algo o incomodava. Até que uma idéia pousou-lhe na cabeça já branca: iria voltar a ser garoto. Havia brincado demais e errado demais tentando ser gente grande. Era hora de verdadeiramente viver e lembrou-se de que, quando garoto, gostava de brincar com sua sombra.
Márcio Maffili

Pilar (2005)

Não saber a verdade foi seu erro.
Viver naquele enorme balão colorido, também.
Quando o pilar desabou,
o balão veio ao solo em delirante bailar
e seu turvo ar se dissipou sob o olhar
daquele vacilante amor.
Mãos, pés, cabeça
caindo num rodopiar frágil.
De dentro do cesto sem chão
tentou agarrar-se a algo - foi em vão
desfazia-se no incerto azul daquele dia,
seu antigo reduto de paz.
Seus objetos despencaram contra o vento,
pertences de uma vida plena
ignorante de sua infelicidade.
Talvez por não querer sabê-la,
assim estaria melhor?
E o agora nunca havia se feito tão presente:
e agora?
Descobriu no amor um abismo,
encontrou espinhos desleais
a ferir quem colhe a rosa:
aquele mesmo quem a plantou.
E feliz era naquele balão apoiado no pilar.
Nunca havia visto a base:
densas doces nuvens cercavam sua redoma.
Só nesse agora foi perceber
o quão alto estava.
O chão tão longe,
o tempo tão distante,
o sonho já errante.
Teria que reaprender a viver lá embaixo
no mundo dos homens.

Marcio Maffili

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Despedida de Domingo (2005)

Bateu no peito a brisa fria da manhã. Teve pesadelos à noite. A cama agarrou-lhe pelos braços e pernas afundando o corpo no colchão. Teve sonhos perdidos no dia anterior. Preferiu assim levantar logo e ver o sol de março brotar no mar como flor orvalhada pela madrugada difícil. Esticou-se sob a luz que se aproximava e iniciou a colheita de quentes raios dourados. Embebedou-se de ar e, cambaleante, sentou-se à beira da praia.A noite havia sido sacrificante também para o mar em ressaca.
Reparou um redondo grão de areia úmida que, junto com tantos outros, colou em sua perna. Era translúcido como o pensamento que o ocorria. Encheu as mãos na areia e ali as escondeu por bom período. Sentiu-se acrescer de vida: energia nunca antes sentida, drenada do chão. A areia se aquecia e as mãos se molhavam.
Esqueceu-se do tempo e suas convenções de hora, nada convencionais. Permitiu-se ali estar. Deu-se folga hoje. Mas logo se lembrou de que era domingo e os afazeres, de qualquer maneira, só tinham agendado compromisso para o amanhecer de segunda. Dádiva divina: era realmente domingo. E de pijama estava na praia. Riu de si, para todos – que ainda eram poucos, era cedo, era um menino.
Lembrou-se do dia anterior. Preferia esquecer a maratona que foi a semana, os desesperos de ontem...em vão. Sentiu o escritório afundar novamente, andar a andar, no chão da rua. Via isso sozinho. Uma enxurrada tomou conta de tudo, choveu muito por lá. Trovões e relâmpagos. Mesas, armários, papéis, computadores, cadeiras e pessoas inundadas na confusão que se instalou. A responsabilidade recaiu sobre seus ombros, quando estava a se perder.
Atolado em preocupações foi pesado para casa. Retirou a roupa, banhou o corpo e tombou na cama. Ainda teve tempo de ouvir as fortes ondas quebrarem na orla, enquanto os dois comprimidos diários não o levavam ao pesadelo justo. A visão então turvou. A velha dor no peito veio visitá-lo saudosa. Revirou-se, debateu-se, mas acabou afogado no colchão.
Acordou anestesiado no meio da noite. Decidiu então ir à praia, onde o menino se alegrava ao jogar prateada bola no mar e vê-la voltar espumante, envolta em ondas. Uma paz inesquecível lhe banhou a cabeça.
Reconfortado, sorriu mais uma vez. Ergueu-se em súbito movimento, aproximando-se do garoto. E ali ficou, olhando o formoso volume d’água aproximar-se e arrancar-lhe areia por debaixo dos pés. Temeu cair, mas prendeu-se ao burilar da areia. Grão, sob grão, sobre grão. Esféricas individualidades, tão diferentes e tão semelhantes. Teriam passado por tantas praias, por águas outras e ali estavam compondo uniformemente a paisagem.
Foi quando ouviu silenciarem-se os risos da criança. Recordou-se criança e da criança, e a viu sentada com as mãos na face. A bola perdia-se no profundo céu de mar azul. Entrou na água para resgatá-la e quando já estava com ela nas mãos, cegou-se diante de reluzente anjo a descer do alto. Recolheu o homem em seus braços e pousou-o na areia. Acenou levemente e sumiu como havia surgido.
Sem pensar, correu até o garoto que com uma lágrima nos olhos e sorriso pleno tomou a bola de suas mãos e saiu em disparada, como quem convida a uma brincadeira. Olhando para trás disse:
-Sentimos sua falta.
Márcio Maffili

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

APRENDENDO (2005)

...raramente escrevo poemas...não sei mesmo...nunca publicaria um se um amigo não dissesse que gostou...aí vai!

09/05/2005 - aprendendo

joguei-me ao mar
negro e espumante nesta noite
não sei nadar

ando contra as ondas
batem na minha pele
colam a roupa

o frio aumenta
enche-me de vontade de correr
correr para ainda mais fundo
e me afogar

náufrago em mim mesmo
transbordo por ti
estenda tua mão a mim
afogo-me por ti

não por tua causa
por teu ar - do qual preciso

ensina-me a te amar
nadar eu aprendo

Márcio Maffili

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Desconstrução (2004)

A vida instante a momento foi perdendo sentido. Aos poucos não podia mais sentir o úmido aroma da tarde – fumegante aquecer luminoso do sol. Nem mesmo a fumaça com seu sufocar sensibiliza meu nariz, agora cansado e desiludido com tudo.
Meus olhos, encorajados pelo resto, já não se contentam mais com as plásticas cores, antes vislumbrantes lampejares de vida, agora dual branco-preto. Estaria então tudo preto-no-branco? Muita coisa ainda por entender, talvez por ser inexplicável o fracasso surpreendente do fim. Eterno era, mas restaram senão marcas, essas sim eternas.
Curativos e gaze na alma para tentar retomar o vibrante sentir do toque. Espremer-se no ar revolto como um pássaro em mais um mergulho sem fim no horizonte agora sem alcance. Não em profundidade: em leveza. Sibilar solenemente entre as rajadas de vento, sentir-se no todo, sentir-se tocado, envolto. Mas revolto, protesto e caio. Dor não há.
Em gotas, tento dissolver-me no infinito, mas somos imiscíveis. Sem rumo, acabo fragmentado e perdidamente enfraquecido.
A saliva da boca entreaberta ganha gosto: forte azedume desentendido. E a comida está morta, naturalmente exposta na sala de estar presa à moldura de madeira.
Espero. Ouço um ruído distante, diluído no tempo em que nos fizemos ausentes. Não pode ser um violino, mas o é. É suave e incessante: ressoam pelo corredor frágeis notas, batem no assoalho e refletem em mim. Rompendo o silente espectro do ambiente, me acertam com força. Passeiam. Traquinamente pelo corpo ainda inerte.
Do canto escondido, esbraveja o sangue querendo voltar a correr. Ainda morno, repousa nas veias e artérias ansioso aguardando seu destino. O pensamento-enfarte ainda se perpetua. Atônita, a massa corpórea sente-se esfriar, enroscada, enforcada, sufocada pelo obsessivo pensar.
Pensar agora no nada – o terrível e inatingível desfiladeiro de incertezas – pois o resto sempre se resolve, sempre a seu tempo.
A música cessou, é hora de resgatar a vida, ou não – todas as vezes a decisão é feita. Despertar e mais uma vez sentir o desenrolar do pensamento que apertava o corpo, parando o voluptuoso jorrar escarlate. Retirar um a um os curativos que sufocavam o tato. Deixar a membrana improvável que empapuçava o ouvido de silêncio romper-se com o causticante perfume do ar. Desentupir o enojado nariz e forçosamente descolar as pálpebras, acovardadas pelo medo de se arriscar a ver.
Não era a primeira vez que isso ocorria. A cada dia, como em um ritual, joga-se ao sofá e repete insistente esse ato. Não eu, ele: personagem entediado, parte de mim, que clama por um dia entender a vida durante a sesta do almoço.
Márcio Maffili

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Casa Vazia (2005)

Casa vazia. Casa de avó vazia.Tarde de um domingo de céu limpidamente azul, sol brilhante e vento frio. Somente a avó em sua casa e chega:não são necessárias mais pessoas. Não neste dia. Com um grito do portão ela vem abrir a sua casa, o seu coração de mãe duas vezes.
Agora, sentado à mesa, noto o quão grande a casa ficou. A violeta (não violeta, e sim azul) ainda continua na pia da cozinha, cintilante entre pratos, copos e panelas a secar. Cultivada por anos, suas folhas hoje arrancadas fazem brotar lembranças na casa dos filhos e netos. Mas decerto, a mais bela é a mãe de todas.
O café forte e doce está servido – um banquete para dois numa mesa para família. Na verdade, uma história de dois, alicerce da família.
- Sinto falta do seu avô. Estou muito triste e não consigo estar de outra forma. Já faz tempo...passou rápido. Tenho muita saudade dele. Depois de quase cinco meses, ainda não sei como continuar.
Os olhos grandes. Os olhos que viram tanto, da cor da violeta, se banham em lágrimas. Mudo de cadeira para segurar aquela mão macia e ainda molhada que me aperta em desabafo e queda.
- Queria muito ter dito a ele que o amo. Por que as coisas foram assim? Brigamos uma vida inteira...será que ele sabe que eu gosto tanto dele? Hein, Márcio?
Silêncio. Passo a mão sobre os cabelos brancos e cheirosos de minha avó. Não me contenho e também choro. Recordo-me dos dois juntos, das brigas e principalmente dos momentos felizes compartilhados. Nascimento dos netos mais novos, casamento de uma das filhas, domingo de festa, macarronada e frango, aniversários, reforma da casa, o quintal, limoeiro e bambu, futebol na tv da sala, crianças pelos corredores, formaturas, loja que teve seu nome ali escolhido, chupar cana na escada, acerola no pé, Totó e depois Apolo, casa cheia de risos, música e alegria.
- Você não sabe o que aconteceu ontem. Estava lavando roupa lá atrás e depois que pendurei tudo no varal, ainda com a roupa do corpo molhada, fui para a janela olhar o dia. E não é que um beija-flor veio me visitar? É verdade Márcio. Não sei...se era verde e preto...colorido! Era pequenininho. Tão bonito. Ele veio me beijar. Me deu um beijo e foi embora. Ele batia as asas tão rápido que sumiu de repente, por isso que nem deu pra ver a cor. Ele só veio pra me trazer um beijo e voou. Ele era encomendado. Eu sei disso, alguém me mandou aquele beijo e acho que sei quem foi. Tenho certeza.
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"Quando a gente fala fica tudo tão confuso"

- Você esqueceu o que é sonhar!
- Eu não...
- Então o que é uma árvore pra você?
- Uma planta.
- Você esqueceu o que você dizia...
- O que eu dizia?
- Dizia que é uma pessoa que não fala, que vive sempre de pé no mesmo ponto, que ao invés de braços tem galhos, ao invés de unhas tem folhas e ao invés de ficar falando da vida dos outros, dão flores e frutos.
- Algumas árvores dão pitangas vermelhas.
- Outras dão laranjas doces ou azedas.
- Dessas que a mamãe fazia doce.
- Outras dão umas bolinhas pretas que você gostava de comer.
- Jabuticaba. Meu irmão se atrapalhava todo para dizer. Vamos, repita: ja-bo-ti-ca-ba. Ja-tu-bi-ca-ba. Eu explicava pra ele o que eram frutas. Frutas são bolas que as árvores penduram nos ramos para proveito dos pássaros e das gentes. Dentro há sucos ou massas de todos os gostos. As maças usam massas. As laranjas usam caldos. E as pimentas usam um ardido que queima a boca da gente.
- E queima mesmo?
- Não queima, mas a gente diz assim. Quando a gente fala fica tudo tão consfuso.

(“Da arte de subir em telhados” - Armazém cia de teatrO

A partir de hoje passo a publicar aqui alguns textos que escrevi nos últimos anos...mas lembro que quando a gente escreve fica tudo tão confuso...
Abraços!

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Cariocas não gostam de dias nublados!


...salve salve Adriana Calcanhoto!
Dias chuvosos são verdadeiros desperdícios. É dia sem expectativa, sem pra onde..., quando chega???, já vou indo!!!
Mas às vezes é bom. Bom pra ficar em casa, dar uma pausa nas coisas da vida (na vida não dá, porque esta não pára e se parasse torceríamos por dias chuvosos). E assim me resta ouvir Roberta Sá (melhor cantora dos últimos tempos, confiram
Estou à espera deste “Samba de Amor e Ódio” que não chegou ainda...vai ter mais tempo pra gente ficar junto! Eu acredito nisso!

“Samba de Amor e Ódio”
Composição: Pedro Luís e Carlos Rennó

Notícias perderão todo o controle dos fatos
Celebridades cairão no anonimato
Palavras deformadas
Fotos desfocadas, vão atravessar o atlântico
Jornais sairão em branco
E as telas planas de plasma vão se dissolver
O argumento ficou sem assunto.

Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer com você
Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer...

Os políticos amanhecerão sem voz
O outdoor com as letras trocadas
Dentro do banco central o pessoal vai esquecer
Como é que assina a própria assinatura
E os taxistas já não sabem que rua pegar
Que belo estranho dia pra se ter alegria
E eu respondo e pergunto.

É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer por você
É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer...

Alarmes já pararam de apitar
O telefone celular descarregou
O aeroporto tá sem teto
E a moça da tv prevê silêncios e nuvens
A firma que eu trabalho faliu
E o governo decretou feriado amanhã no Brasil
Será que é pedir muito?

É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de enlouquecer com você
É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de enlouquecer...

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Sobre quando Do Outro Lado de Cá surge....

Do Outro Lado de Cá surge de uma necessidade de existir, simples assim. Nem por isso, por aquele, por aquilo outro.
Na verdade sua existência remonta a Criação, quando, num daqueles dias enfadonhos de trabalho semi-infinito e atento, Deus criou o Lado de Lá. Desde então Do Outro Lado de Cá faz parte da vida de alguns que se permitem aproximar.
Alerto sobre a sazonalidade desta aproximação. O Lado de Lá está confuso ultimamente. Mas faz parte.
Seja bem-vindo caro amigo, Do Outro Lado de Cá você perceberá que as coisas são diferentes, e mais próximas do que possa imaginar...
Abraços!