quinta-feira, 13 de setembro de 2007

"Quando a gente fala fica tudo tão confuso"

- Você esqueceu o que é sonhar!
- Eu não...
- Então o que é uma árvore pra você?
- Uma planta.
- Você esqueceu o que você dizia...
- O que eu dizia?
- Dizia que é uma pessoa que não fala, que vive sempre de pé no mesmo ponto, que ao invés de braços tem galhos, ao invés de unhas tem folhas e ao invés de ficar falando da vida dos outros, dão flores e frutos.
- Algumas árvores dão pitangas vermelhas.
- Outras dão laranjas doces ou azedas.
- Dessas que a mamãe fazia doce.
- Outras dão umas bolinhas pretas que você gostava de comer.
- Jabuticaba. Meu irmão se atrapalhava todo para dizer. Vamos, repita: ja-bo-ti-ca-ba. Ja-tu-bi-ca-ba. Eu explicava pra ele o que eram frutas. Frutas são bolas que as árvores penduram nos ramos para proveito dos pássaros e das gentes. Dentro há sucos ou massas de todos os gostos. As maças usam massas. As laranjas usam caldos. E as pimentas usam um ardido que queima a boca da gente.
- E queima mesmo?
- Não queima, mas a gente diz assim. Quando a gente fala fica tudo tão consfuso.

(“Da arte de subir em telhados” - Armazém cia de teatrO

A partir de hoje passo a publicar aqui alguns textos que escrevi nos últimos anos...mas lembro que quando a gente escreve fica tudo tão confuso...
Abraços!

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