Pingos nos i’s dos mimimi’s
Nova manifestação nas ruas do país. Inevitável as pessoas me perguntarem
se eu comparecerei, num misto de curiosidade se a um servidor público é vetada
participação e talvez porque, apesar de ter posição diante da situação, nunca
fui a uma destas.
Primeiro penso na motivação. Na verdade, busco encontrar uma causa que
me faça sair de casa e ecoar nas ruas e não um grito sozinho. Não vou agredir a
presidenta que o povo brasileiro elegeu em um processo democrático. E não, não
vou agredir também os parlamentares que estão lá porque também foram eleitos
pela população dos seus estados Bem ou mal, os representa.
Depois penso nas propostas. Não quero impeachment sem provas. Não quero
um novo Congresso (não da forma que propõem) e muito menos penso ser a ditadura
uma saída cogitável.
Vejo que a reforma que precisamos, seja tarifária, política, educacional
e porque não econômica, deve ser iniciada por uma reforma de princípios
íntimos.
Confesso: às vezes também caio na tentação do “jeitinho
brasileiro”, mas busco me policiar. Não intento mesmo ser santo, contudo, via
de regra, a minha manifestação eu faço no meu dia a dia. No meu trabalho,
quando ando pelas ruas e converso com amigos.
Se nos interessa mesmo o futuro do país, ou um país do futuro, produza
para isso. Dedique‐se ao seu trabalho,
cumpra suas metas, seja honesto. Estamos muito longe do nosso rendimento em
quase todos os setores, quando comparado à capacidade instalada de produção.
Não percam tempo culpando, defendendo, apontando o dedo.
Sabe por que digo isso? Porque o que vejo na rua hoje é a expressão
exata do que vi na última eleição. As pessoas votam por interesse e benefício
próprios! Enquanto não mudarmos isso, não adiantará bradar por reforma. Como
cobrar de um parlamentar que não haja por interesses próprios quando nós mesmos
o elegemos para isso?
O Brasil que alardeou vantagem em passar quase ileso da crise de 2008 é
o mesmo hoje, talvez esteja inclusive em posição melhor que à época.
A diferença básica de lá pra cá é que um projeto político dos principais
partidos brasileiros especulou mais que podia, para o bem e para o mal, e o
brasileiro comum, no meio da queda de braço é hoje quem sofre os efeitos dos
juros e impostos mais altos, inflação e provável recessão técnica em curto
prazo que coloca em risco os salários e empregos.
Um pacto nacional pela pátria e não pelos interesses partidários e
pessoais é fundamental agora. O cenário é favorável, creiam. É na dificuldade
que os objetivos comuns se tornam mais claros, nos distanciamos do próprio
umbigo e podemos somar pela recuperação do país.
Acreditem: a maioria dos brasileiros passa por problemas muito maiores
que não poder mais viajar pra fazer compras em Miami.
Por fim, ser intolerante é feio demais. A intolerância na história
da humanidade só levou a caminhos obscuros. Respeite a opinião das pessoas
e a posição delas. Talvez, na minha visão, este seja o legado das
manifestações: brasileiro redescobriu a rua, redescobriu que pode ter opinião.
Ainda falta saber para que. O resto é selfie inundando as redes sociais e
falsas intenções da mídia.
Marcio Maffili, 12 de abril de 2015