Casa vazia. Casa de avó vazia.Tarde de um domingo de céu limpidamente azul, sol brilhante e vento frio. Somente a avó em sua casa e chega:não são necessárias mais pessoas. Não neste dia. Com um grito do portão ela vem abrir a sua casa, o seu coração de mãe duas vezes.
Agora, sentado à mesa, noto o quão grande a casa ficou. A violeta (não violeta, e sim azul) ainda continua na pia da cozinha, cintilante entre pratos, copos e panelas a secar. Cultivada por anos, suas folhas hoje arrancadas fazem brotar lembranças na casa dos filhos e netos. Mas decerto, a mais bela é a mãe de todas.
O café forte e doce está servido – um banquete para dois numa mesa para família. Na verdade, uma história de dois, alicerce da família.
- Sinto falta do seu avô. Estou muito triste e não consigo estar de outra forma. Já faz tempo...passou rápido. Tenho muita saudade dele. Depois de quase cinco meses, ainda não sei como continuar.
Os olhos grandes. Os olhos que viram tanto, da cor da violeta, se banham em lágrimas. Mudo de cadeira para segurar aquela mão macia e ainda molhada que me aperta em desabafo e queda.
- Queria muito ter dito a ele que o amo. Por que as coisas foram assim? Brigamos uma vida inteira...será que ele sabe que eu gosto tanto dele? Hein, Márcio?
Silêncio. Passo a mão sobre os cabelos brancos e cheirosos de minha avó. Não me contenho e também choro. Recordo-me dos dois juntos, das brigas e principalmente dos momentos felizes compartilhados. Nascimento dos netos mais novos, casamento de uma das filhas, domingo de festa, macarronada e frango, aniversários, reforma da casa, o quintal, limoeiro e bambu, futebol na tv da sala, crianças pelos corredores, formaturas, loja que teve seu nome ali escolhido, chupar cana na escada, acerola no pé, Totó e depois Apolo, casa cheia de risos, música e alegria.
- Você não sabe o que aconteceu ontem. Estava lavando roupa lá atrás e depois que pendurei tudo no varal, ainda com a roupa do corpo molhada, fui para a janela olhar o dia. E não é que um beija-flor veio me visitar? É verdade Márcio. Não sei...se era verde e preto...colorido! Era pequenininho. Tão bonito. Ele veio me beijar. Me deu um beijo e foi embora. Ele batia as asas tão rápido que sumiu de repente, por isso que nem deu pra ver a cor. Ele só veio pra me trazer um beijo e voou. Ele era encomendado. Eu sei disso, alguém me mandou aquele beijo e acho que sei quem foi. Tenho certeza.
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6 comentários:
Muito bonito. Eu descobri que as pessoas que estão do outro lado podem e devem vir nos visitar!
O sentimento foi muito bem posto no texto. Parabéns.
Pessoas sensíveis são raras. Valorize isso.
Fui eu quem postou o comentário acima! Esqueci de apresentar-me: Sou Fênix! Prazer!
Espero em breve que tenhamos mais textos novos e que algum dia, se os outros forem no mesmo teor deste, que publiqueo-os.
Sou um profundo apreciador da escrita e achei uma pessoa que escreve bem. Talento raro mon cher.. talento raro!
eu lembro desse dia. Dia de duo de piano e trumpete...dentro e fora do Pró-Música... E de bala de tamarindo. Boas lembranças...(precisa falar do texto?)
Bom dia. Eu nao sei o seu nome ou nao prestei atençao no que li?
Ontem estava com alguém que eu gosto muito e lembrei-me do seu texto. Será como vou sentir quando essa pessoa for embora? Eu nem sempre consigo dizer a ela: Te AMO! Que eu sinto necessidade dela! Que ela é especial. Nao quero que quando o beija-flor venha visitar-me, ele traga somento um aceno.
Gostaria de ser meu amigo?
Meu e-mail:fenixlivre@hotmail.com
Meu caro escritor, errei de forma bestial meu e-mail. O correto é:
fenixlivremg@hotmail.com
Aguardo contato para discutirmos sobre textos, sentimentos e experiências.
Atenciosamente,
Fênix
Parabéns Márcio, que lindo texto...Dizem que todas as mães são iguais mas eu discordo, na verdade todas as avós são iguais!Me emocionei e me identifiquei com seu texto!
Um abraço
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